1. Em pleno tempo pascal, a Igreja convida-nos a dedicar uma semana à oração pelas vocações de especial consagração (sacerdócio e vida religiosa). Esta semana, que termina sempre no quarto domingo do tempo pascal, chamado “Domingo do Bom Pastor”, decorre, este ano, entre os dias 22 e 29 de Abril. Compreende-se, assim, a razão pela qual o Papa Bento XVI convida a Igreja a rezar, durante todo o mês de Abril, pedindo ao Senhor Jesus ressuscitado para que muitos jovens acolham o chamamento ao sacerdócio e à vida religiosa.
2. A vocação cristã é a vocação à santidade, nascida da graça baptismal. Esta vocação deve ser cultivada ao longo de toda a vida de cada discípulo de Jesus. Sem escutar este apelo à santidade (“Sede santos, porque Eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” – Levítico 11, 44; ou, na versão do Evangelho de Mateus, “Sede perfeitos como o vosso Pai do Céu é perfeito – 5, 48) e sem o desejo de segui-lo, é impossível escutar seriamente qualquer outro apelo de Deus – porque as diversas vocações cristãs não constituem senão os modos concretos de viver este chamamento à santidade.
3. Sem menosprezar qualquer modo de vida cristão, importa não descuidar o cultivo das vocações menos comuns: o sacerdócio e a vida religiosa. Sendo as menos comuns, são hoje, nas Igrejas da Europa, também vocações cada vez mais raras: os seminários têm pouquíssimos seminaristas, ou nenhuns; e as congregações e ordens religiosas dificilmente encontram alguém que deseje entrar no respectivo noviciado. Há excepções, como sejam algumas comunidades de religiosas de clausura, mas não chegam para encobrir a realidade: as Igrejas na Europa estão a ficar sem sacerdotes e sem vida religiosa, no sentido tradicional do termo.
4. As consequências, por exemplo, em relação aos sacerdotes, são muitas, mas a mais significativa traduz-se no facto de ser cada vez maior o número de paróquias sem vida eucarística regular, por falta de pároco residente. Já não me refiro à celebração diária da Eucaristia, antes à Eucaristia dominical, que é a marca do ser cristão católico. As chamadas «celebrações da Palavra na ausência do padre» não substituem, de modo algum, a celebração da Eucaristia – pelo contrário, podem até ser contraproducentes, insensibilizando os fiéis para o facto de serem comunidades sem vida eucarística regular e retirando-lhes motivação para se deslocarem a comunidades vizinhas, onde a celebração da Eucaristia tenha lugar.
5. A oração que nos é recomendada este mês deve ser também ocasião para reflectir e rezar a realidade das nossas Igrejas, integradas em sociedades a envelhecer rapidamente, em que os cristãos vão sendo cada vez mais uma minoria (em muitos casos, uma minoria envelhecida e, portanto, com cada vez menos jovens que possam escutar o chamamento do Senhor) e em que a hostilidade ao facto cristão se vai tornando uma evidência. Reflectir e rezar esta realidade, tão diferente daquela existente durante grande parte do século XX, é uma exigência deste tempo. Só assim a oração pelas vocações será também uma oração capaz de ajudar as nossas Igrejas a perceberem que Deus chama sempre, pode é não chamar do modo como estamos à espera. E, por isso, importa estar aberto à possibilidade de viver a vocação sacerdotal segundo modelos diferentes do habitual e a vocação à vida religiosa em contextos e carismas capazes de responderem às necessidades da Igreja e da sociedade de hoje.
(Ecclesia)
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