O coração da dona Elvira era muito generoso. Apesar de ser
pobre, a boa senhora ajudava sempre todos os necessitados que fossem pedir-lhe
uma esmola, em nome de Deus. O seu marido, o senhor Rui, era um honrado
motorista, muito trabalhador, mas o seu salário era o modesto valor que recebia
pelo serviço feito para os moradores da pequena vila. O que ganhava era apenas
suficiente para sustentar a esposa e a filha, Margarida.
Mesmo assim, apoiava os pródigos gestos da sua mulher. E nunca
faltava nada naquele humilde lar! Tudo isso devia-se à piedade do casal que,
sem deixar de confiar na Providência Divina, era caridoso para com aqueles que
necessitavam ainda mais do que eles. Jamais abandonavam a frequência aos
Sacramentos, pois sabiam que estes e a oração eram o seu sustento e a sua
força. Porém, o tempo passava e a pequena Margarida foi crescendo.
Apesar do bom exemplo dos seus pais, a menina era caprichosa,
vaidosa e muito egoísta. Quando ia brincar com as amiguinhas da vizinhança,
constantemente era a que deveria ganhar em todos os jogos, e tinha que ser o
centro das atenções. Em nada imitava a humildade e a generosidade dos pais.
Quando completou sete anos, a sua madrinha, senhora de certas
posses, deu-lhe de presente uma linda boneca, com olhos de vidro e um vestido
de princesa. A menina ficou encantada! Logo foi mostrá-la às companheiras. Mas
em vez de deixar que cada uma a pegasse nas mãos, acariciasse e embalasse,
cheia de apego, nem permitiu que tocassem no seu novo brinquedo, voltando para
casa com muita arrogância!
A mãe preocupava-se com a filha, pois via que estava a andar por
um caminho bem perigoso e, se continuasse assim, seria uma pessoa muito infeliz
e perderia a amizade de Deus. Por isso, pedia muito à Santíssima Virgem por
ela. E dava-lhe sempre bons conselhos:
- Filhinha, devemos pensar que assim como Jesus é generoso
connosco, devemos ser com os outros. Se ganhaste esta linda boneca, é para que
possas brincar junto com as tuas amigas. Nada temos que não tenha vindo da bondade
de Deus. Não sejas egoísta!
A menina escutava atenta, mas logo esquecia os bons conselhos da
mãe…
Algum tempo depois, começou a catequese para a sua Primeira
Comunhão. Margarida ouvia com interesse a catequista contar os milagres de
Jesus, como Ele tinha curado os doentes, ajudado os mais necessitados e como
era generoso para com todos. O seu pequeno coração foi sendo tocado pela graça
e começou a fazer um exame de consciência de como andava mal com as suas
atitudes egoístas e caprichosas…
Já na véspera do grande dia, antes mesmo da primeira Confissão,
as crianças da catequese tiveram uma Missa preparatória para a mesma. E, numa
das leituras, a menina ouviu:
-“Dê cada um conforme o
impulso do seu coração, sem tristeza nem constrangimento. Deus ama quem dá com
alegria” (II Cor 9, 7).
Aquelas palavras entraram como um raio de fogo no seu coração!
Queria ser ela também amada por Deus… Queria sentir a alegria de dar!
A aldeia era pequena e todos se conheciam, mas aquele infeliz mendigo
era-lhe totalmente desconhecido. O homem pedia uma esmola, por amor a Deus.
Diante de tal súplica, Margarida sentiu-se tocada, pois ainda ressoavam na sua
alma as palavras que acabara de ouvir:
-“Deus ama quem dá com alegria”…
Margarida levava sempre no seu pescoço uma correntinha com uma
pequena cruz de prata, presente da madrinha, do seu Batismo. Era o objeto pelo
qual mais tinha apreço. Sem hesitar e sentindo pela primeira vez a alegria de
dar, a menina tirou o estimado objeto e deu-o ao pobre homem. Este olhou-a com
extremo afeto e gratidão, e disse-lhe:
- Que Deus lhe pague e recompense!
Tomada de uma rara felicidade, a menina voltou para casa a correr
e contou o facto à mãe que, em lágrimas, abraçou a filha, dizendo-lhe:
- Pois minha filha, fica a saber que esta foi a melhor
preparação que poderias ter feito para receber Jesus, no Santíssimo Sacramento!
Naquela noite, Margarida teve um sonho.
Jesus aparecia-lhe com a sua cruzinha de prata nas mãos,
adornada com as mais belas pedras preciosas. E, sorrindo, perguntava-lhe:
- Conheces este objeto?
Ela respondia-Lhe que sim, mas que não era tão linda como estava
agora…
Jesus, então, dizia-lhe:
- Ontem tu deste-a a um mendigo desconhecido, e a virtude da
caridade a tornou mais bela! Esse mendigo era Eu! Prometo-te que, no dia do
Juízo, na presença dos Anjos e dos homens, mostrarei esta pequena cruz para que
a tua glória seja eterna.
Na manhã seguinte, a menina aproximou-se do confessionário,
completamente transformada.
Depois de limpar a sua alma dos caprichos e egoísmos, pôde
receber Jesus na Eucaristia, com muita consolação e compreendendo o quanto é
verdade que “Deus ama quem dá com
alegria”.
Reflexão: Ofertar com alegria é fazê-lo de coração, de boa vontade, sentir prazer. Não por necessidade, porque precisa, mas porque quer. Não por obrigação, mas por uma decisão pessoal. Não para pagar por algo, mas em reconhecimento e gratidão por aquilo que Deus é para mim. Não para receber de volta, mas porque Deus já deu tudo. Não para ajudar a merecer o perdão, a paz e a salvação, mas como resposta, como serviço ao Senhor que já deu tudo isso.
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