terça-feira, 3 de abril de 2012

Apenas um rapaz

Era uma vez um rapaz bravio que gostava de pregar partidas e fazer maluquices, só por  embirração. Era muito antipático este rapaz. Mas emendou-se. Eu conto como foi.
Um dia, por maldade, deu-lhe na telha atormentar uma pobre velhota, que vivia numa casinha pobre, à beira do povoado. Foi para uma pedreira que tinha perto e pôs-se a atirar pedras e a rebolar pedregulhos, que iam cair no quintal da pobre senhora. Para o que lhe havia de dar!? No fim do seu feito, já cansado, aproximou-se da casa da velhinha, para ver de perto os resultados da sua proeza. Andava a velhinha a recolher as pedras, espalhadas pelo quintal.
- Foi uma bênção que me caiu do céu. - dizia a velhinha. – Precisava, há que tempos, de consertar o muro do quintal, mas não tinha forças para trazer tantas pedras. Se não fosse esta avalanche...
O rapaz ficou de boca aberta. E mais sem fala ficou quando a velhinha lhe propôs:
- Bom rapazinho, importas-te de me ajudar a consertar o muro?
Ele, que tinha de fazer de conta que era um bom rapazinho, não teve outro remédio. Passou o resto do dia a acartar pedras, as pedras que ele lançara do alto do monte. No fim da tarefa, a pobre senhora agradeceu-lhe o trabalho e deu-lhe um grande boião de mel. O rapaz lá se foi, cansado e a lamber os beiços, um tanto confundido. 
À noite, quando se deitou, estava cá com uma dor horrível nas costas! Mas regalado com o mel que a senhora lhe dera.
Ora pois! Serviu-lhe de emenda. Mudou de intenções. Não posso garantir se, dessa vez em diante, nunca mais pregou partidas. Um diabinho não se transforma de repente num santinho. É exigir demais. Mas, na verdade, deixou-se de brincadeiras tolas.
Sem que possa ser considerado um virtuoso rapazinho, também já não é um venenoso rapazote. Nem rapazinho, nem rapazote. Apenas um rapaz. Nem muito mau, nem muito bom. Como quase toda a gente, aliás. 

(Autor: António Torrado)

Para Reflectir:
É de lamentar a falta de sentido de responsabilidade de muitos jovens, que alegam o direito à liberdade, sem perceberem que esta se torna um conceito vazio quando não é acompanhada por uma atitude atenta e responsável. 
Aqueles que, no exercício da sua liberdade, não respeitam os direitos dos outros dificilmente poderão viver em sociedade, sem atrair para as suas vidas problemas de toda a natureza.


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