terça-feira, 19 de abril de 2016

Existe mesmo a vontade de Deus por trás do nosso sofrimento quotidiano?

Uma leitora italiana fez esta pergunta a uma revista:
Prezados editores, eu acredito que a cruz que Deus nos dá é apenas a da fidelidade aos seus ensinamentos, custe o que custar. Mas Santa Teresinha escreveu: "Cristo reconheceu a vontade do Pai por trás da mão dos algozes que o pregavam na cruz; também nós devemos reconhecer e adorar a vontade do Pai por trás da vontade malvada dos homens, que tantas vezes nos crucifica". Como interpretar essa frase?


Resposta:
O sofrimento e a dor, especialmente dos inocentes, são o verdadeiro grande mistério da nossa vida. A própria cruz é um instrumento de tortura. Toda tentativa de entender esse mistério precisa ser feita com "temor e tremor", com respeito. Qual é a causa do sofrimento? Por um lado, há os limites da nossa natureza humana; a fragilidade da criação; por outro, há o pecado, que traz ao mundo a injustiça, a violência, os abusos. Em última análise, tudo vem de Deus no sentido de que é graças a Ele que o mundo criado continua a existir. No entanto, Ele não quer o mal, que, na verdade, consiste na ausência do bem; mas Ele o permite porque nos criou livres e respeita a nossa liberdade – com todas as suas consequências, inclusive a ausência do bem.

Mesmo assim, Deus não nos deixou sozinhos à mercê do mal. Ele nos enviou o seu Filho para nos salvar e dar sentido à dor. O cristianismo, no fundo, é a única resposta verdadeira ao drama do sofrimento: nós acreditamos, afinal, que o próprio Deus, através do Seu Filho e compartilhando a nossa natureza humana, experimentou a dor, a injustiça, a perseguição e a morte. "Deus amou tanto o mundo que deu o Seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3, 16). Jesus Cristo, Filho de Deus, uniu-se ao padecimento de cada ser humano, de todos os que sofrem, dos torturados, dos marcados pela doença. Todas as vezes que vemos um irmão a sofrer, podemos reconhecer nele a presença de Cristo e nos esforçar para aliviar a sua dor e curar as suas feridas, como o bom samaritano da parábola. Esta experiência do amor em meio à dor nos humaniza e nos prepara para a vida plena, em que, livres da finitude da matéria, não mais sofreremos nem morreremos.
É importante entender que não é o sofrimento de Cristo o que nos redimiu do mal, e sim o seu amor por nós: um amor capaz de dar a sua vida até à morte na cruz. Como escreve São Paulo aos gálatas, Cristo "me amou e se entregou por mim" (2, 20). Esta é a vontade de Deus que Cristo aceitou e praticou: amar até o fim, aceitando o cálice da paixão. A paixão e morte de Cristo tornaram-se neste mundo um sinal do amor de Deus, assim como a cruz se transformou em instrumento de salvação.
Assim também os nossos sofrimentos e a dor inocente adquirem sentido e tornam-se sinal de amor, unidos à cruz de Cristo. São Paulo chega a escrever: "Sou feliz nos meus sofrimentos por vós e completo o que, dos sofrimentos de Cristo, falta na minha carne" (Col 1,24). Como afirma João Paulo II na Salvifici doloris, "no mistério da Igreja como seu Corpo, Cristo abriu, em certo sentido, o próprio sofrimento redentor a todo sofrimento do homem".
Como entender então as palavras de Santa Teresinha? 
Deus não quer o mal e o sofrimento, mas quer que na nossa vida se manifeste o seu amor, capaz de superar toda a cruz. (Fonte: Antonio Rizzolo)




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